No passado
Ah! Falta de inspiração, a mente vazia, nada se cria e a vida segue sem poesia até a próxima angústia, até a próxima esquina, a sombra e a janela fechada d'onde olhos espiam.
Espiam os olhos, eles espiam o mundo, mas o mundo não parece tão claro e as idéias não parecem formadas, e na porta os ouvidos esperam pelos sons que querem ouvir, mas os olhos, tolos perdidos, não enxergam mais. Sem resposta, sem nada, e tudo divaga pelos ventos do mundo e tudo, apenas tudo, está calmo, pois ninguém tem coragem de atacar, os olhos observam os ouvidos fingem ouvir, mas nada se move, simplesmente inerte.
Revolução à dois
Isso me remete ao vazio, mas não estou mais vazia, as caras e bocas não são as mesmas, elas tem novas formas, novas representações. São agora o que preenchem o que antes era vazio e fazem transbordar o que se torna tão cheio.
E do cinza fez-se o verde, das bordas perdeu-se o limite para se chegar ao que não se pode ver, mas sabe-se que simplesmente está lá, e tudo se abre como o livro do tempo, a rosa dos ventos
E o mundo se renova, se mostra da forma mais bonita. As cores vibrantes estão presentes mais uma vez, o conteúdo está escorrendo pelas bordas e as coisas parecem possíveis. Não se vê, não se toca, mas as sensações estão presentes, elas causam efeitos, são reais.
E do renascer do mundo tudo perde a gravidade, o caminhar sobre a água, o voar acima das árvores, a pluma que se solta, e sobrevoa os campos, as flores e os montes. Ela enxerga o céu azul e se vê nas gotas que se formam nas nuvens. Agora ela mesma é uma nuvem e sorri para o sol, levada pelo vento, se desintegrando para renascer de novo, onde quer que se precise de chuva, para trazer o verde para o cinza.
O sol tão de perto, a claridade e a luz interior fazem dela o retrato da leveza. Agora é chuva, é vida. É a própria vida, é a vida para o que era cinza. É a renovação, a transformação para o verde, a transformação para a água, a representação do que é novo. E de novo ela corre, e você sente por entre os dedos, ela escapa, mas deixa sua marca. As mãos, agora, sempre abertas, estendidas para perceber a dama dos ventos, das nuvens. Nada seria mais o mesmo, além do mais, não se poderia esperar o mesmo todo dia, mas a esperança do retorno, da vida de novo, existiria, o espírito que começava a queimar, pois não haviam vivido a vida, apenas observado-a passar, desfilando na avenida, sem nunca tocar, nunca beber, nem chorar ou alegrar-se. Tudo mudou. De pé! E fora do chão, no alto, o coração, na ponta dos sapatos a emoção de ver além daquelas velhas criações.